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Daniele Damata conta os desafios de ser maquiadora negra no Brasil

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Maquiagem Negra por Daniele Damata

Dona do curso itinerante de automaquiagem Negras do Brasil e maquiadora de Tássia Reis e Liniker, Daniele Damata representa a definição do que é empoderamento feminino negro!

Maquiagem para pele negra, no Brasil, tem nome: Daniele Damata. Com uma cabeleira preta e branca inconfundível, olhar firme e discurso realista, a maquiadora tem plena consciência do quanto sua negritude influencia em todos os aspectos do seu trabalho.
Conversamos com a Damata pra conhecer sua trajetória e as dificuldades que ela enfrenta em sua carreira de maquiadora negra no Brasil

Dani Damata Maquiadora Pele NegraComo o afroempreendedorismo e a beleza se cruzam na sua trajetória?

Quando eu comecei a maquiar, não sabia que seria uma empresária. Eu tive a boa sorte de conhecer uma gerente de negócios, que foi quem me disse para abrir uma escola de maquiagem para pele negra. Eu falei que não, no começo, porque tinha medo.

Graças a resquícios da empresa em que eu trabalhava, eu achava que o consumo de produtos para pele negra era escasso. Ela sentou comigo e fez um plano de negócios.

Meu marido da época era designer gráfico e me ajudou também.

Quando vi o plano de negócios pronto, eu comecei a enxergar a possibilidade de abrir uma empresa. Estudei empreendedorismo, fluxo de caixa, fiz todos os cursos do SEBRAE possíveis!

A beleza é um mercado que não é explorado da forma como poderia. Há uma troca que pode ser maior que dinheiro, e isso era justamente o que eu desejava.

Você é lida de uma forma diferente no mercado de beleza por ser maquiadora negra, e trabalhar principalmente com clientes afrodescendentes?

Sim. Eu acho que fui muito corajosa de segmentar meu trabalho, cinco anos atrás. Foi um processo de aceitação comigo, primeiro, e depois com os desafios que eu teria.

Eu era muito jovem – abri a Damata com 20 anos – e as pessoas me viam como uma menina. Nesse sentido, tive dificuldade de diálogo, de estabelecer negócios.
Vejo muita diferença na forma como sou vista, também, quando eu vou trabalhar com publicidade. Os maquiadores brancos são respeitados, mas comigo o tratamento é diferente, inclusive financeiramente. Acabo ganhando menos que outros maquiadores e sei disso.

Assinei a beleza da campanha de uma grande marca e precisou de uma grande mobilização de outras pessoas para que eu fosse chamada. Eu tinha duas assistentes e uma delas era branca, loira, de olhos claros. O diretor da campanha apareceu e começou a fazer perguntas para a maquiadora branca, como se ela estivesse assinando.

Foi constrangedor, porque ele não achava que seria eu a assinar uma campanha com mulheres negras e cacheadas. Senti na pele como o mercado publicitário é uma bolha que precisa ser furada, mas, para isso é necessário ter muita gente envolvida, muita ajuda.

Eu, assim como meus colegas brancos, estudo, sou qualificada, e ser vista de forma menor por causa do meu tom de pele é algo que me machuca muito.
Muitas marcas de beleza têm adotado porta-vozes negros para seus produtos de maquiagem. Isso abre o mercado de alguma forma para as maquiadoras negras?

Não! Ter as meninas lá é muito importante, porque elas têm reflexo nas mulheres que as veem, mas não necessariamente para as maquiadoras negras, porque a publicidade ainda é um grupo muito racista e fechado.

Hoje sou maquiadora da Liniker, da Tássia e da Jesuton. Mas, ainda assim, se eu não brigar para estar com elas numa publicidade, não vou conseguir.

maquiagem negra por Daniele Damata

Recentemente, tivemos um grande boom internacional com o lançamento da marca Fenty, da Rihanna. Ter negros criando maquiagem muda algo para os profissionais negros de beleza?

Olha, pode ajudar muito. O que a Rihanna fez foi algo que eu achei que jamais veria viva. O mercado é extremamente pessimista, tanto para as profissionais negras quanto na indústria de maquiagem. A indústria brasileira tem que ter vergonha!

Lá fora, garimpando, encontrei marcas específicas para pele negra – super caras, mas eu juntei dinheiro e comprei, porque é importante. Porém, as marcas brasileiras não despertaram ainda.

Muitas vezes, quando um produto é ofertado na publicidade, ele não condiz com a cor real que está na loja. Em outras, o produto existe e é bom, mas o atendimento inadequado afasta a cliente negra.

Nós temos que admitir que a nossa estrutura é racista e, por isso, as mulheres negras são maltratadas em lojas.

Eu tenho vergonha de trabalhar com pele negra e ter de falar para a cliente que não tenho uma base para ela. Porque me recuso a ensinar as clientes a misturar bases – elas têm que encontrar bases para elas.

A gente fala muito hoje sobre marketing de causa, que é importante, mas até que ponto ele está realmente sendo transformador na vida das pessoas?

Apesar dos cabelos, de Cruela, Damata não tem nada. Ela é mesmo maravilhosa! E pra acompanhar o trabalho dela é só seguir a @damatamakeup no instagram ;)

este Daniele Damata conta os desafios de ser maquiadora negra no Brasil é um conteúdo original Modices.


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